A Apoteose Carioca
Uma nova era iniciou-se na Cidade Olímpica. Durante a madrugada, agentes da Polícia Rodoviária Federal, da Marinha do Brasil, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e da Polícia Militar ocuparam três favelas, sendo Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. A operação militar foi batizada de Choque de Paz e contou com a participação de 1.500 soldados, sendo 194 da Marinha e seus 18 tanques-anfíbios. Ninguém foi morto na ação e o comandante da operação, o coronel Pinheiro Neto, gabava-se do feito. Mérito da divulgação antecipada do horário e ruas em que os policiais iniciariam a ocupação. O secretário de (in)Segurança Pública, José Mariano Beltrame, usou frases maniqueístas para se referir à ação, dentre as quais merece destaque a "É a luta de pessoas do bem contra o mal." Assim, bem simples. No meio da euforia, a polícia fez uma "limpa" nos vendedores ambulantes, recolhendo 21 mil CDs e DVDs piratas, 4,5 mil peças de roupas, cerca de 100 pares de tênis e 1,3 mil brinquedos. O ponto alto das festividades foram os hasteamentos das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro no cume da favela da Rocinha, orgulhosamente para divulgar a retomado do território pelo poder estatal. E este é o ponto. A retomada de territórios pelo governo. Triste é o Estado que volta as costas à população, a ponto de perder fatias de seu território dito soberano para um poder paralelo, e ser necessária a intervenção de junta militar e equipamentos de guerra para os reaver. O poder público brasileiro é criminalmente omisso. Com suas políticas demagogas de Direitos Humanos e seu inescrupuloso ataque aos cofres públicos, permitiu que uma parcela da população também se regalasse no banquete de seus crimes, de forma a criar a idéia de que existem mais vantagens e apoio em levar uma vida à margem da sociedade do que de forma mais honesta, enquanto outra parcela da população foi jogada à margem por serviços e assistências deficientes e, não raro, inexistentes, e outra parcela foi condenada a prover as duas anteriores com o fruto de seu trabalho, seja pelos assaltos diretos ou indiretamente com o roubo de 40% de sua renda mascarados de impostos. Essa é a República de Bananas em que o destino pensou por bem nos lançar. Alguém em pleno uso de suas faculdades intelectuais diria, à luz dos recentes acontecimentos, que o estadista Charles de Gaulle estava errado ao afirmar que "o Brasil não é um país sério"? Agora estão aí, correndo em busca do tempo perdido, mas tempo perdido não volta mais.
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